Um grupo de cidadãos inconformados com a crise política na Guiné-Bissau voltou hoje a manifestar-se pacificamente em Bissau para exigir a renúncia ao cargo do Presidente do país, José Mário Vaz.

MANIFESTAÇÃO HOJE EM BISSAU - MILHARES DE PESSOAS PEDIRAM A SAÍDA DO PR JOSÉ MÁRIO VAZ.
FOTO: DR/AAS/DC
A manifestação, que juntou na sua maioria jovens, saiu da rotunda do aeroporto para terminar, por imposição do Governo, em frente à sede do Benfica de Bissau, onde os organizadores gritaram palavras de ordens contra o Presidente guineense.
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Jomav rua, Jomav fora", gritaram os manifestantes, usando o nome pelo qual o Presidente é conhecido. No seu entender, é o chefe de Estado o responsável pela persistência da crise que dura há mais de ano e meio.
Quando ao facto de a polícia ter mantido um cordão de segurança que impediu a manifestação de chegar às imediações do palácio presidencial, Lesmes Monteiro, um dos líderes do Movimento dos Cidadãos Conscientes e Inconformados (MCCI), referiu que da próxima vez os participantes vão "
até debaixo da cama do Jomav, se for preciso".
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Não temos medo de ninguém, apenas estamos a respeitar a lei, nem temos medo destes polícias que aqui estão", acrescentou Monteiro, um conhecido cantor de intervenção.
O presidente do MCCI, Sana Canté, afirmou que, apesar de o Governo ter anunciado que a manifestação visava destruir bens de figuras que lhe são próximas,
a marcha de hoje decorreu de forma pacífica e assim vai continuar até que José Mário Vaz deixe o cargo.
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Nós acreditamos que o Jomav é o principal responsável por esta crise", observou Canté, frisando que também em Lisboa alguns guineenses se manifestaram hoje contra o Presidente do país. O representante acusou o governante de não respeitar as leis e a Constituição da República.
Tony Goia, também dirigente do MCCI, que defende a entrega da gestão da Guiné-Bissau às Nações Unidas, por um período mínimo de 10 anos, enalteceu "
a coragem crescente dos jovens", mas apelou-os a participarem mais em "
ações de protesto democrático".
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Podemos mudar o paradigma deste país, basta só querermos", defendeu Tony Goia, antigo apresentador de programas na televisão pública guineense.
A manifestação terminou de forma pacífica ao som de música, com os manifestantes em passos de dança. Houve momentos em que os manifestantes pediram salvas de palmas para a polícia que se encontrava a manter a segurança no local.
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Esses polícias são nossos irmãos, também sabem o que se passa no nosso país", considerou Fatumata Baldé, a única mulher a subir ao palanque para falar "
em nome de todas as mulheres" da Guiné-Bissau e mais uma vez para exigir "
a renúncia do Presidente Jomav". José Mário Vaz foi eleito Presidente em 2014 para um mandato de cinco anos e desde então já nomeou cinco governos.
O presidente do Parlamento da Guiné-Bissau, Cipriano Cassamá, pediu esta semana aos parceiros internacionais do país para ajudarem os guineenses a saírem do impasse político que vigora há mais de ano e meio.
Cassamá reuniu-se com os representantes do chamado P5, espaço de concertação que reagrupa os embaixadores em Bissau da Organização das Nações Unidas, União Europeia, União Africana, comunidade de Estados da África Ocidental e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
A todos entregou a proposta por si elaborada para saída da crise política na Guiné-Bissau, que passa, essencialmente, pela formação de um novo Governo que incluísse os cinco partidos com assento no parlamento.
Na proposta de Cipriano Cassamá, o novo governo seria liderado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das últimas eleições legislativas, mas que tem sido afastado do poder devido às divergências com o chefe do Estado. Lusa